Comércio eletrônico garantindo o abastecimento das cidades durante a pandemia do Coronavírus

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Desde o surto do COVID-19 a China está com suas ruas vazias e shoppings desertos. Foi uma prévia do que chegaria na Europa e até mesmo no Brasil. Além da forte disseminação de informações sobre sintomas, prevenção, contágio e tratamento, há uma forte discussão (via internet) sobre como comprar suprimentos, como utilizar serviços médicos e como as pessoas ganharão dinheiro. Vale a pena lembrar Alibaba e JD.com cresceram significativamente com a crise da SARS em 2002 e 2003. Anos depois os grandes chineses tem tecnologia e estrutura.
Ainda bem que o surto não iniciou no Brasil, pois mesmo com todos os aprendizados da China, ainda sim sofreremos. Mas se há uma forma de superar as perturbações sociais e comerciais da pandemia é a tecnologia digital, especialmente o comércio eletrônico. Está claro que o varejo sofrerá com os as restrições, inclusive o varejo eletrônico, com exceção dos itens relacionados a saúde, higiene e limpeza. De acordo com estudo da Ebit|Nielsen, observou-se forte queda (20%) nas vendas de fevereiro para todas as categorias, em comparação a janeiro.
Na China, o bloqueio (lockdown usado pela mídia internacional) gerou pânico na população e desencadeou o esvaziamento das prateleiras dos supermercados e muita aglomeração de gente! Porém em questão de poucos dias os suprimentos começaram a fluir e um ajuste no supply-chain foi suficiente para manter a população abastecida. As entregas tem mantido as cidades abastecidas evitando que a população tenha que sair de casa para comprar itens básicos. Da mesma forma que o Brasil, só que com uma logística inferior à da China.

Boas notícias

Diagnóstico rápido

A startup curitibana Hilab, que desenvolveu um dispositivo laboratorial que oferece exames remotos, em qualquer lugar, com o diagnóstico pronto em apenas alguns minutos, anunciou ter desenvolvido um teste rápido para o coronavírus, que apresenta resultado em aproximadamente 10 minutos.

Tratamento

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, compartilhou em seu Twitter neste sábado (21) um gráfico de um estudo que mostraria o sucesso do tratamento que combina hidroxicloroquina e azitromicina contra o novo coronavírus. A farmacêutica EMS, em parceria com o Hospital Albert Einstein, devem iniciar testes de medicamento para coronavírus no país. Os estudos clínicos atestarão a eficácia do medicamento hidroxicloroquina, no tratamento da covid-19. A farmacêutica produz esse remédio no país e é indicado para o tratamento de lúpus e malária.
O início dos testes depende da permissão da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Conselho Nacional de Saúde.

Covid-commerce

Muitas empresas da indústria de alimentos estão diversificando atividades ou redirecionando orçamentos em resposta à crise. Até mesmo os supérfluos como moda e luxo inovaram na crise. Veja como China, E.U.A., Europa e Brasil responderam:

Catástrofe na Europa

  • A Europa está atrás do Brasil do quesito delivery, mesmo com grande empresas construindo suas próprias estruturas de entrega a demanda do consumidor é muito baixa para justificar grandes investimentos do mercado;
  • A infraestrutura de cidades antigas é muito precária para espaço e para movimentação de mercadorias e as leis trabalhistas européias impedem a formação de uma rede de entregadores autônomos para atender a um pico na demanda;
  • Com a atual paralisação nacional na Itália, transportadoras não conseguem entregar remessas às famílias dentro das cidades em quarentena; rapidamente, as empresas implementaram sistemas que verificam se uma entrega específica é possível ou não;
  • A Les Petits Joueurs, uma marca italiana de bolsas e sapatos de luxo, lançou um showroom virtual completo com opções de Realidade Aumentada (AR) para experimentar todos os produtos.

E.U.A. deixando a desejar

  • Embora os consumidores dos E.U.A. estejam mais do que prontos para comprar na Amazon com suas contas, cartões, endereços e carteiras virtuais, apenas 16% do total de vendas em 2019 foram pela internet – um número alcançado na China quatro anos antes;
  • Mantimentos e alimentos prontos para consumo continuam sendo categorias difíceis para o mundo digital, apesar dos esforços por parte do Walmart.com e da Amazon, que recentemente comprou a Whole Foods. Não é que a tecnologia seja inferior, os consumidores dos EUA têm sido muito mais lentos na transformação digital que os chineses;
  • Logística de última milha para supermercados ainda não atingiu os padrões vistos nas principais cidades da China. Mesmo no ramo de restaurantes, empresas como Uber Eats estão muito atrás da Meituan, Swiggy e Ele.me e muitos outros serviços similares na China.

China dando show

  • Nas principais cidades da China, mantimentos e outros itens comprados on-line são entregue em casa em até 20 minutos após a compra. A empresa Cainiao, por exemplo, gerencia o supply-chain de milhares de varejistas e cria um estoque unificado que liga o mundo online e offline, onde os varejistas podem estender sua rede de distribuição e se conectar em outros canais;
  • Para evitar circular em locais com alto risco de contágio os consumidores migraram para o e-commerce com prazos de entrega mais longos;
  • Super Apps estão facilitando que pequenos varejistas vendam qualquer tipo de produto na internet, oferecendo uma estrutura completa de pagamentos, logística e atendimento. 71% dos consumidores chineses realizam transações on-line, principalmente por meio de aplicativos para smartphones (80% das transações de comércio eletrônico);
  • Nas comunidades e bairros fechados que caracterizam Pequim, por exemplo, os residentes organizaram pequenos grupos de voluntários por meio de aplicativos de bate-papo em grupo para receber suprimentos no portão para toda a comunidade, encaixotá-los para cada casa e entregá-los às portas das pessoas;
  • A empresa Meituan Dianping relatou que as vendas de alimentos crus, como vegetais, carne e frutos do mar, triplicaram. A Ele.me, parte do Alibaba Group, também viu os pedidos de supermercado quase dobrarem e a JD afirmou que as vendas quase quadruplicaram;
  • Por conta da flexibilidade nas leis trabalhistas, hotéis, restaurantes e cinema estão compartilhando seus funcionários com empresas que precisavam de mão-de-obra para distribuição de encomendas, como a Hema (um supermercado online do Alibaba), Ele.me, Meituan e 7Fresh e de JD;
  • Uma das maiores empresa de roupas íntimas e lingerie da China, mudou seu foco para a venda no WeChat. Eles envolveram todos os funcionários criando um ranking de vendas. incluindo até o CEO.

Brasil entre erros e acertos

  • Diversos estados do Brasil estão expedindo ordens para fechar agências e operações dos Correios para conter a disseminação do coronavírus. Os Correios recorreram ao STF alegando que trata-se de um serviço essencial, mas as decisões e os impactos ainda são uma incógnita em tempos de incerteza como que vivemos atualmente;
  • As redes de supermercado que não vendem online nunca estiveram tão arrependidas. As transações em supermercados online sobem em 180% de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) e devem se manter em alta por muito tempo;
  • Um estudo da Ebit Nielsen aponta que a categoria álcool em gel chegou a representar 9% do faturamento total de Saúde no e-commerce no dia 16 deste mês. Tradicionalmente, o produto não chega a representar nem 1% das vendas online do setor;
  • Houve aumento no volume de compras online de produtos como termômetros (45%) e desinfetantes (14%). Juntas, as categorias obtiveram faturamento total de aproximadamente R$ 1,6 milhão. Fraldas (26%), papinhas (51%) e lenços umedecidos (10%) também tiveram destaque no crescimento das vendas em fevereiro na comparação com janeiro, segundo a Ebit|Nielsen;
  • Em alimentos, por sua vez, houve um aumento de 10% nas compras online de comidas enlatadas e em conserva – alcançando o valor total de R$ 1,5 milhão em fevereiro.

O os gigantes do e-commerce estão fazendo?

Amazon

Antes mesmo de um empregado de uma planta logística da Amazon ser diagnosticado com o novo coronavírus, a empresa já havia emitido um comunicado com todas as ações que a empresa estaria tomando para manter as entregas, a saúde de seus funcionários e clientes. A Amazon terá uma grande responsabilidade nesse período de bloqueios para garantir o suprimento de alimentos, medicamentos, higiene, sem contar o fluxo de outros produtos.

Shopify

A maior plataforma de e-commerce do mundo, a Shopify, está tomando medidas para apoiar os pequenos negócios nesse momento de crise. Foi criado um fundo de quase 1 bilhão de reais para apoiar pequenos negócios. Novas lojas terão 90 dias de teste grátis, no lugar de apenas 14. A ferramenta para vender gift cards está disponível em todos os planos para ajudar negócios locais. Funcionalidades de entregas locais, permitindo que pequenos comerciantes ofereçam entrega local em sua comunidade. E muito conteúdo online, toda semana uma programação de webinars para ajudar os pequenos negócios a enfrentar esse período, veja todo conteúdo neste link: www.shopify.com/covid19

Facebook

A Organização Mundial da Saúde recebeu acesso vitalício e gratuito ao espaço de propagandas pagas do Facebook. Com alto impacto para divulgar informações de prevenção, notícias e pronunciamentos oficiais, a OMS começou também a utilizar o recurso para combater Fake News. Com a atitude do Facebook, a agência foi capaz de reduzir os riscos de pânico e informações tendenciosas, através de um recurso tecnológico.

Google

O Google disponibilizou acesso sem custo para sua plataforma de videoconferência: Hangouts Meets. Com o acesso Enterprise disponibilizado gratuitamente, os usuários puderam iniciar chamadas de vídeo com até 250 participantes e realizar transmissões ao vivo com suporte para 100 mil espectadores.

iFood

O iFood, criou um fundo de R$ 50 milhões para restaurantes em meio à pandemia, com repasses mais curtos e outras medidas para incentivar a sua própria cadeia. Também criou outro fundo de R$ 1 milhão para os colaboradores em quarentena, além de iniciar testes de entregas sem contato.

O que estamos aprendendo com a crise?

  • Quem já estava preparado se beneficiou, pois terá um impacto negativo menor do que as empresas que perderam seu único canal de vendas. Com uma loja virtual ativa foi possível direcionar seus clientes para o outro canal;
  • O Brasil ainda tem poucas cidades com uma estrutura de entregas locais eficiente e digitalmente conectada, o que prejudicou a operação de lojas virtuais que dependem somente dos Correios para entregar suas mercadorias;
  • O comércio eletrônico está presente em nossas vidas há décadas, mas a grande maioria dos varejistas que foram prejudicados com o lockdown não possuem uma loja virtual para continuar atendendo seus clientes; Muitos restaurantes, por terem uma operação mais simples, começaram a vender através dos aplicativos e através das redes sociais, trazendo conveniência para seus clientes fiéis;
  • É durante pandemia ou uma crise econômica profunda que a criatividade gera novos negócios, novas ideias e novas maneiras de pensar. Os governos perceberam as vantagens de um sistema logístico integrado a uma rede de comércio eletrônico para abastecer a população e casos de emergência;
  • O comércio eletrônico é a única alternativa.

O COVID-19 é um alerta. Está claro que para superar situações críticas com mais facilidade será necessário acelerar a transformação digital das economias e melhorar a estrutura logística.
 
Fontes:
https://hbr.org/2020/03/delivery-technology-is-keeping-chinese-cities-afloat-through-coronavirus

Seven Chinese ecommerce companies you should know about (other than Alibaba and JD.com)

India’s Swiggy raises $113M led by Prosus

IFood cria fundo de R$ 50 mi para restaurantes em meio à pandemia


https://edited.com/resources/the-5-strategies-retailers-should-adopt-to-combat-coronavirus

Impacto do coronavírus: transações em supermercados online sobem em 180%


https://www.scmp.com/tech/apps-social/article/3049520/some-chinese-tech-companies-see-surge-customers-amid-coronavirus

Workers sent home after Amazon warehouse employee tests positive for COVID-19

Iniciativas Solidárias: 8 empresas que deram exemplo frente ao Surto do Coronavírus


https://noticias.r7.com/saude/coronavirus-trump-divulga-estudo-que-mostra-sucesso-de-tratamento-21032020
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/03/20/ems-inicia-testes-de-medicamento-para-o-tratamento-da-covid-19.ghtml

Érico Scorpioni é CEO da CheckStore, empresa de Full E-commerce, que oferece a terceirização completa para lojas online, desde atendimento ao consumidor, passando por soluções de logística até a implementação e gestão total da loja. Publicitário por formação, Érico é pós graduado em marketing estratégico pela ESPM e marketing focado no consumidor na London Business School.

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